O Evangelho de hoje, narrado por João, é um dos textos fundamentais da literatura bíblica: “Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho unigênito”. A importância deste trecho do evangelho está no fato de recordar a “figura” de Deus no amor. Deus é amor, até ao extremo de doar tudo, inclusive o seu próprio filho.
A primeira leitura, encontrada no final do livro de crônicas, faz uma releitura teológica da história de Israel até a deportação para a babilônia. O autor procura nos mostrar as consequências da infidelidade de Israel, que não soube ouvir a voz de Deus proclamada pelos profetas. Mesmo diante desse fato, Deus não abandona seu povo e suscita o rei persa para trazer os deportados de volta a Jerusalém.
Na segunda leitura o autor mostra que Deus é rico em amor e misericórdia para com seus filhos. Esse amor não é mérito humano, mas dom e gratuidade do Pai. Depois de termos sido objetos do amor misericordioso de Deus, cabe nos corresponder a esse amor com gestos concretos de boas obras.
O Evangelho de hoje em especial, faz parte do dialogo de Jesus com Nicodemos. O texto nos apresenta fatos importantes: Jesus é fonte de vida e norma de conduta para o ser humano. Traz também o episódio da serpente de bronze no deserto: enquanto a serpente restituía a vida transitória, de Jesus na cruz, doação que alcança vida definitiva. Jesus veio ao mundo para revelar o grande amor do Pai pela humanidade e mostrar o caminho que nos leva a salvação.
Ora, a imagem de um Deus que julga e condena, que recompensa os bons e pune os maus, é típica em todas as religiões. Esta imagem de Deus é completamente ridícula. Jesus desmente a imagem de um Deus Pai julgador e condenador.
Escutemos, então, o que São João escreve no capítulo 3, versículos de 16 a 18. O trecho é o do discurso ainda com Nicodemos. “Deus, de fato, amou tanto o mundo que deu o Seu Filho unigênito”. Jesus declara a expressão do amor de Deus pela humanidade. Deus exprime o Seu amor dando o Seu Filho, “para que todo o que nele crê – e aqui “crer” não significa aderir a uma doutrina religiosa, mas significa aderir a uma pessoa, à sua mensagem, neste caso, aderir à pessoa de Jesus – “não morra, mas tenha a vida eterna”.
Esta vida pode ser de fato eterna, não tanto pela sua duração indefinida, mas pela sua qualidade indestrutível. E Jesus continua: “Deus, de fato, não enviou o Seu Filho ao mundo para…”. O verbo usado no texto original não é condenar. O verbo grego adotado pelo evangelista significa: emitir uma sentença, julgar. Portanto, não é o mesmo que condenar.
Jesus veio oferecer nos uma alternativa de vida, uma possibilidade de crescimento para todos, de plena realização ao homem, na sua existência. “Quem nele crê”, continua Jesus, “não é condenado”. Na mensagem de Jesus, é totalmente ausente a imagem de um juízo da parte de Deus. Não se trata de nenhum julgamento, logo, de nenhuma condenação. “… Mas quem não crê já está condenado porque não acreditou no nome do Filho unigênito de Deus”. Aqui é preciso acrescentar ao versículo o que a versão litúrgica contém, caso contrário, não será possível compreender, pois parecerá contraditório.
Jesus continua dizendo a Nicodemos que o julgamento é este: “a luz veio ao mundo…”, e depois, conclui: “quem pratica o mal odeia a luz”. Não se trata, como se pode perceber, de um juízo da parte de Deus, mas de uma oferta de vida, caracterizada pela luz. Cabe ao homem, então, sentir-se atraído por essa luz e fazer parte do amor para sua salvação, pois quem pratica o mal, detesta essa luz divina.
Então, não é um julgamento por parte de Deus que rejeita a pessoa, mas é a pessoa que, por causa dos seus interesses e das suas conveniências se afasta do amor de Deus – e este é o mal – rejeita a oferta de plenitude de vida da parte de Deus. Venham todos que estais cansados e oprimidos que eu vos aliviarei. É esse o amor de Jesus por nós, que nos aproximemos dele, com amor aos nossos semelhantes.
Deus não pode fazer nada, a não ser fazer brilhar ainda mais a Sua luz. Mas, quanto mais a Sua luz brilha – mais as sombras querem bloqueá-la, porque a odeiam. Portanto, o convite do evangelista João é para que se pratique, diariamente, ações de luz para que se possa entrar em plena sintonia, em comunhão com um Deus que é luz e amor ao mesmo tempo.
No texto que nos é proposto hoje, Jesus começa por explicar a Nicodemos que o Messias tem de “ser levantado ao alto”, como “Moisés levantou a serpente” no deserto (a referência evoca o episódio da caminhada pelo deserto quando os hebreus, mordidos pelas serpentes, olhavam uma serpente de bronze levantada num estandarte por Moisés e se curavam. A imagem do “levantamento” de Jesus refere-se, naturalmente, à cruz – passo necessário para chegar à exaltação, à vida definitiva. É aí que Jesus manifesta o seu amor e que indica aos homens o caminho que eles devem percorrer para alcançar a salvação, a vida plena e eterna.
Jesus, o “Filho único” enviado pelo Pai ao encontro dos homens para lhes trazer a vida definitiva, a vida eterna, é o grande dom do amor de Deus à humanidade. A expressão “Filho único” evoca, provavelmente, o “sacrifício de Isaac”: Deus comporta-se como Abraão, que foi capaz de desprender-se do próprio filho por amor (no caso de Abraão, amor a Deus; no caso de Deus, amor aos homens)… Jesus, o “Filho único” de Deus, veio ao mundo para cumprir os planos do Pai em favor dos homens, para que pudéssemos ser salvos pelo seu sacrifício na cruz.
Para isso, incarnou na nossa história humana, correu o risco de assumir a nossa fragilidade, partilhou a nossa humanidade; e, como consequência de uma vida gasta a lutar contra as forças das trevas e da morte que escravizam os homens, foi preso, torturado e morto na cruz para remissão dos nossos pecados.
A cruz queridos irmãos e irmãs é o último ato de uma vida vivida no amor, na doação, na entrega. A cruz é, portanto, a expressão suprema do amor de Deus pelos homens. Ela dá-nos a dimensão do incomensurável amor de Deus por essa humanidade a quem Ele quer oferecer a salvação. Qual é o objetivo de Deus ao enviar o seu Filho único ao encontro dos homens? É libertá-los do egoísmo, da escravidão, da alienação, da morte, do pecado e dar-lhes a vida eterna.
Com Jesus – que morreu na cruz – os homens aprendem que a vida eterna está na obediência aos planos do Pai e no dom da vida aos irmãos, por amor e com amor aos demais irmãos.
Ao enviar ao mundo o seu “Filho único”, Deus não tinha uma intenção negativa, mas uma intenção positiva. O Messias não veio com uma missão judicial, nem veio excluir ninguém da salvação. Pelo contrário, Ele veio oferecer aos homens – a todos os homens e Mulheres – a vida eterna, definitiva, ensinando-os a amar sem medida e dando-lhes o Espírito que os transforma em Pessoas Novas.
Reparemos neste fato notável: Deus não enviou o seu Filho único ao encontro de homens perfeitos e santos; mas enviou o seu Filho único ao encontro de homens pecadores, egoístas, autossuficientes, a fim de lhes apresentarem uma nova proposta de vida… E foi o amor de Jesus – bem como o Espírito que Jesus deixou – que transformou esses homens egoístas, orgulhosos, autossuficientes e os inseriu numa dinâmica de vida nova e plena.
De acordo com a perspectiva de João, também não existe um julgamento futuro, no final dos tempos, no qual Deus pesa na sua balança os pecados dos homens, para ver se os há de salvar ou condenar: o juízo realiza-se aqui e agora e depende da atitude que o homem assume diante da proposta de Jesus. Você apenas colherá aquilo que durante sua vida você plantou.
Na parte final do nosso texto, João repete o tema da opção pela vida (Jesus) ou pela morte. Ele constata que, por vezes, os homens rejeitam a proposta de Deus e preferem as trevas tudo aquilo que torna o homem infeliz e lhe impede o acesso à vida definitiva). Precisamos deixar bem claro, que quem pratica as obras do amor (as obras de Jesus), escolhe a luz, identifica-se com Deus e dá testemunho de Deus no meio do mundo em que se vive.
Deus é bom e o seu objetivo é salvar a humanidade. São Paulo nos afirma que é pela graça que nós somos salvos, na medida da nossa fé em Jesus, pois Deus é rico em misericórdia, e com muito amor nos deu a vida em Cristo, quando ainda estávamos diante das trevas por causa das nossas faltas. Assim como tirou o Seu povo do Exílio na Babilônia, Deus também deseja nos tirar do exílio do pecado.
Jesus Cristo é o Seu enviado para nos salvar de todas as consequências das nossas faltas e para nos fazer ressuscitar com Ele e, unidos a Ele, nos fazer também sentar nos céus. Tudo isto é graça e dom de Deus, portanto, não depende das nossas obras, mas das obras que Deus já nos destinou.
E as boas obras que Deus preparou para nós são a vivência dos Seus ensinamentos os quais nos levam a praticar o amor e a justiça. Neste tempo, quando se aproxima a Páscoa, precisamos meditar muito na graça que alcançamos e que mais uma vez iremos reviver. Não podemos nos perturbar nem entristecer por nada. O Senhor Deus é Pai e quer a nossa felicidade, por isso, Ele nos ressuscitou com Cristo e nos fez sentar-nos nos céus em virtude da nossa união com Ele.
Em resumo: porque amava a humanidade, Deus enviou o seu Filho único ao mundo com uma proposta de salvação. Essa oferta nunca foi retirada; continua aberta e à espera de respostas. Diante da oferta de Deus, o homem pode escolher a vida eterna, ou pode excluir-se da salvação. A decisão deve ser individual, cada qual é responsável pelos seus atos. Afinal, aprendemos que Deus envia seu Filho ao mundo para que o mundo seja salvo por Ele. Basta Acreditar e o seguir.
Direto da Santa Missa
DEIXE SEU COMENTÁRIO | Os comentários são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião deste site.